O crescimento global da energia eólica, embora vital para a transição energética, gera um desafio crescente: o que fazer com as pás de aerogeradores no fim da sua vida útil. Feitas de materiais compósitos de difícil degradação, estas pás acumulam-se em aterros. Felizmente, uma solução inovadora surge para transformar este resíduo num recurso valioso. Trata-se da vitrificação, uma técnica pioneira que permite reciclar pás de aerogeradores para criar painéis de construção de alto desempenho.

A técnica da vitrificação começa com o triturado mecânico das pás de aerogeradores, transformando-as em grânulos. Estes resíduos, compostos por diversos materiais composites como fibra de vidro e resinas, são misturados com minerais naturais usando soluções alcalinas. Este processo não só evita que estes complexos materiais acabem como microplásticos em aterros, mas cria uma nova matéria-prima. “Esta abordagem inovadora demonstra que o resíduo de um setor pode tornar-se o insumo valioso para outro, fechando ciclos e promovendo a sustentabilidade real”, afirmam os promotores do projeto, destacando a importância da produção industrial sustentável com baixo consumo energético.

O resultado são os PANEIS VITROWIND GF-GRAN FORMATO, notavelmente compactos e leves, mas com elevada resistência mecânica. Possuem propriedades excelentes de isolamento térmico e acústico, além de serem ignífugos. Com uma relação peso/volume de apenas 650 Kg/m³, estes painéis são quatro vezes mais leves que o betão, apesar de serem estruturais. A sua composição, 60% granza de compósitos de pás e 40% minerais naturais, alinha-se perfeitamente com princípios de economia circular. Esta solução é especialmente relevante face ao crescimento de projetos como os aerogeradores offshore, que geram componentes de dimensões cada vez maiores, tornando a sua reciclagem um desafio premente.

A implementação em larga escala do projeto VITROWIND tem um impacto direto e positivo nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Contribui para o ODS 7 (Energia Acessível e Limpa) ao fortalecer a aceitação pública da energia eólica através da gestão responsável dos seus resíduos, e para o ODS 13 (Ação Climática) ao desviar toneladas de resíduos de aterros, evitando a sua degradação em microplásticos e a consequente poluição. Em vez de vermos pilhas de resíduos a degradar-se, podemos visualizar edifícios construídos com materiais reciclados, simbolizando a transformação de um problema ambiental numa solução construtiva para um futuro mais verde.

Projetos como o VITROWIND demonstram o potencial ilimitado da inovação na transição energética. Soluções circulares como esta, essenciais para a sustentabilidade de setores em expansão como a energia eólica (incluindo a offshore) e a emergente economia do hidrogénio verde, serão cruciais não apenas para a viabilidade, mas também para a aceitação social. Estaremos nós, como sociedade e indústria, prontos para abraçar e escalar estas inovações, transformando “lixo” em recursos valiosos para um futuro verdadeiramente sustentável?